terça-feira, 13 de outubro de 2015

RELATÓRIO DE 1963 - 4



Em 1941, a guerra já havia se espalhado pelo mundo. Hitler até gostava de armas modernas, mas as novas tecnologias não conseguiram o entusiasmo do alto escalão, nem muitos recursos para serem desenvolvidas. E, isso era razoável, a Blitzkrieg mostrava-se bem sucedida no começo. Enquanto a Alemanha avançava vitoriosa em território inimigo, não havia mesmo motivos para produzi-las. Mas, em 1943, sem as vitórias, pelo ar na Inglaterra e com blindados na Rússia, a história tomava um rumo desalentador. Von Paulus havia capitulado aos Russos, e os aliados recuperavam o Norte da África, ameaçando desembarcar na Itália.

Quando a sorte diminuia, não demorou muito para que se procurasse novas alternativas para evitar a derrota final. A conquista do espaço aéreo pelos aliados foi um duro golpe para os civis, nas cidades bombardeadas. Sem a força aérea, as fábricas também passaram a ser destruídas, diminuindo a capacidade alemã de prosseguir resistindo. Neste contexto, as esperanças de vitória, que muitos ainda cultivam, não tinham o menor fundamento, e grupos desesperados, começaram a buscar meios, para tentar tudo que fosse possível. Então, as super armas foram reconsideradas nos altos círculos do poder, e esforços individuais passaram a ser incentivados. Wernher von Braun estava na frente, com um bem preparado subsídio tecnológico e recebeu, não só as maiores receitas, mas toda a mão de obra que necessitasse. Com as suas V1 e V2, ele podia castigar a Inglaterra. Quem pede recebe, que se movimenta tem preferência! Time que está ganhando não se mexe.


As cavernas existentes e outras escavadas, começaram a receber os meios disponíveis para continuar a produção. De uma delas, Karlen pôde lançar os Foo fighter, que saíam em busca das aeronaves aliadas, causando confusão e mal funcionamento dos equipamentos elétricos, inclusive dos motores, e eventualmente se chocavam com elas, explodindo-as. Nessas bolas de fogo (Feuerkugel), já estavam funcionando a nova tecnologia de levitação com mercúrio. Os efeitos insalubres, agora, poderiam ser até úteis, já que eram direcionados contra o inimigo.


Karlen foi convocado por Kammler para bolar os Foo fighters e lhe forneceram meios suficientes para confeccionar 10 esferas. Elas poderiam levitar graças aos discos giratórios, e seguiriam as aeronaves pelo som dos motores, com sistema de navegação autônomo, que até poderia ser parecido com o do Sino. Elas tinham algum explosivo para autodestruição caso se chocassem ou fossem capturadas. E, seriam um ótimo laboratório de experiências, para o funcionamento de uma pequena aeronave, a Kleine, que Karlen planejava construir para uso próprio. Foram muitas horas de uso em situação real dos Foo fighter e oportunidades para fazer melhorias nos projetos.



A utilização ideal dos Foo fighter era contra bombardeiros com escolta, quando o inimigo tinha superioridade aérea, pois o levitador era atraído indiferentemente pelo ronco de qualquer tipo de motor. Era importante não haver esquadrilha amiga por perto. Quando as sirenes soavam, os Foo fighters decolavam à espera do inimigo. Assim que captassem os sons das aeronaves, precipitavam-se sobre elas, causando um enorme tumulto. Uma colisão seria o suficiente para derrubar um alvo, mas raramente acontecia, o objetivo não era esse. Um sensor de carga de bateria, os fazia aterrissar de volta, para serem reaproveitados. E, tá trocando as bolas, Tchê!

Durante sua estadia nas cavernas produzindo os Feuerkugel, chegaram alguns rolos de um tecido metalizado desenvolvido para as roupas de proteção aos técnicos que manuseavam xerum. O inventor se chamava Viktor Stell, o primo de Karlen. O produto era apenas plástico anti-radiação, mas era justo o que faltava para tornar viável o seu projeto. Por isso, em homenagem ao inventor, juntou os nomes para batizá-lo como Viktalen (Viktor+Karlen). Este produto fora desenvolvido inicialmente para os Zeppelins, e abandonado depois do desastre do Hindenburg. Com algumas modificações, ele vinha sendo testado sem sucesso para proteção contra os raio-x, mas se mostrou bastante eficiente para o xerum.


Já na iminência da invasão russa, com o caos tomando conta de tudo, Karlen preparava a sua  bóia salva-vidas. E, escondido em uma passagem secreta, foi juntando tudo que precisaria para montar ao menos uma aeronave. Por meses, ele havia reunido matéria prima para modelar as peças, conforme o seu projeto. Os artífices da fábrica de Feuerkugel as produziram sem saber o que eram. Quando as notícias do Exército Vermelho chegaram, Karlen bloqueou a passagem do seu depósito particular, e mandou destruir toda a linha de fabricação.


Todos abandonaram a caverna e a dinamitaram. Havia apenas uma entrada secreta na floresta acima, por onde poderia ter acesso às peças para montar a sua máquina voadora, mas deixou-a lá, para só retornar depois de 16 anos. Dias depois, Karlen se entregava, junto com Helmut Gröttrup e os demais professores da universidade local, ao comandante da tropa da vanguarda russa. Foram interrogados e, avaliados como potenciais colaboradores, sendo em seguida,  encaminhados para o coronel Korolev, em Moscou, em uma base de foguetes, recém-criada.


Em 1946, a China ocupou a região, onde havia o minério de xerum, que pertencia ao Tibet, e o local foi dinamitado para a construção de uma estrada nas montanhas, em substituição à trilha que existia antigamente. O próprio general Haushofer comunicou a Göttrup.



Em 1961, com 54 anos, Karlen ainda sonhava com as possibilidades do seu intento. O sucesso do Sputinik, pelo qual havia se dedicado junto com os outros alemães, lhes permitiu ganhar algumas recompensas do Kremlin. A mais importante foi a autorização para visitar sua Terra Natal. Karlen foi ver os parentes que viviam em Dresden, de onde podia sair à noite para ir à sua caverna secreta. Os 15 dias da primeira viagem, não foram suficientes para nada. Mas ao retornar, em 1962 e 1963, foi possível montar sua nave, que chamada de “Kleine” (pequena).

Durante anos, ele havia se preparado psicologicamente, com dinheiro, e informações para uma viagem, muito difícil, mesmo na década de 60, ainda mais clandestino, passando sobre radares e artilharia anti-aérea, de duas potências prontas para começar a 3ª guerra mundial. Mas, não seria nada fácil fazer tudo sozinho. Além do mais, demoraria meses para sobrevoar os Alpes, o Mediterrâneo, o Sahara, o Atlântico, e ainda atravessar o Brasil, em busca da caverna, aquela do Itaimbezinho. Então, poderia chegar a Feliz, para fazer contato com parentes, que lhe ofereceriam condições de se tornar uma nova pessoa, com outra vida pela frente.


 Treino é treino, jogo é jogo! Karlen precisava sair da retranca! Ele ficaria com o passe à venda. Mas, não podia pisar na bola. Devia driblar 1, 2, 3! Quem sabe os 11? Se tá dando bola! Futebol é bola na rede! Show de bola!


A decolagem com sua aeronave foi planejada para o período de festas, no final de Dezembro, e só foi possível realizar alguns testes no interior da caverna em que a Kleine ficou guardada e montada. A maior dificuldade, mesmo tendo dinheiro, foi comprar os 50 litros de gasolina, e transportá-los para a floresta, para entrar na caverna. Tudo era muito perigoso em um país ocupado, onde o serviço secreto era implacável e atirariam em qualquer um parecesse ser um traidor. Karlen seria apenas mais um dos técnicos proeminentes que tentavam desertar da União Soviética. Provavelmente, corrompido pelas tentações do capitalismo, foi ajudado a escapar, pelo muro de Berlim, que ainda não era tão eficiente.


Finalmente, antes de concluir seu relatório e se preparar para executar seu plano, nos menores detalhes, Karlen descreve a máquina voadora que havia concebido e discorre sobre as técnicas para utilizá-la e os recursos de navegação que ela dispunha. Apenas um resumo ficou gravado na memória de Carlos, enquanto lia atentamente cada frase. A localização no Brasil também foi bem explicada.


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