Junto com o velho relatório datilografado, havia uma carta do avô, escrita a mão alguns dias antes, de não ser mais visto. Ele diz que desconfiava estar sendo seguido, e pressentia que seria levado embora, sem aviso. Só não sabia se eram russos ou israelenses, suas maiores suspeitas. Declarando que amava aquela família, como se fosse a sua própria, ele pede que não o procurem pois era perigoso demais; e, tenham cuidado com as informações daquele relatório.
Ele mesmo queria poder usá-las pessoalmente, no melhor momento possível. Mas, se Carlos estava lendo aquela carta, é porque tal oportunidade não havia surgido. Então, pedia desculpas por não ter se despedido, pois não queria assustá-los, desejando que fossem felizes, ainda que sem ele presente. Ele havia juntado, durante anos, algum dinheiro para prover a sua aposentadoria, e agora deixava tudo para o netinho, Carlos.
Karlen explica que seu sobrenome foi criado no Brasil, derivado de um dialeto germânico que veio com imigrantes, em 1824. Seu avô foi, a negócios, para Alemanha em 1895, levando sua família, e não voltou. Uma de suas filhas é a mãe de Karlen. Eles sempre falavam português, em casa. No ano de 1934, trabalhando no Zepelim, Karlen pode visitar seus antepassados na cidade de Feliz, e, nessa ocasião, desbravando o Itaimbezinho, descobriu uma imensa caverna.
Quando Karlen tinha 10 anos, em 1917, o pai que era alemão e mecânico, foi ferido e morreu durante um movimento motorizado de suprimentos, na 1ª guerra mundial. A partir daí, a mãe e os avós é que passaram a lutar para sobreviver com as 3 crianças, em um país desmoralizado pela derrota. As irmãs mais velhas tiveram que trabalhar cedo, e só Karlen é que pôde fazer faculdade.
Em 1935, já engenheiro, foi convocado como inspetor de material bélico do Reich, e recebeu um lote de salvados trazido pelos japoneses das antigas colônias alemãs no Pacífico. Os artefatos eram inúteis como peças ou conjuntos, pois estavam queimados, retorcidos ou contaminados, e permaneceram por anos, esquecidos em um depósito isolado. Por certo, só serviriam para ser derretidos como sucata, se não fosse um bilhete de Himmler, que foi entregue a Karlen, no qual eram recomendadas as 32 minas marítimas, com pintura tóxica, que já havia causado uma morte.
Na faculdade, o professor Lenk esclareceu que o agente corrosivo, externamente nas esferas, é uma tinta radioativa feita com o Xerum 525: um mineral trazido do Tibet, com uma estranha propriedade. Absorve as radiações eletromagnéticas! Ou seja, não reflete ondas de radar! Os rastreadores de metal baseados nas teorias de Hertz, podiam detectar navios à distância, e vinham sendo aperfeiçoados por vários países, desde antes da 1ª guerra mundial. Uma capa de invisibilidade contra o radar, seria uma excelente contramedida que poderia dar enorme vantagem em um contexto de guerra. Agora, voltado para o armamentismo, Himmler queria aeronaves revestidas de xerum, não detectáveis por Radar.
Em 1914, percebendo o fenômeno, o professor havia desenvolvido a tinta especial e pretendia testá-la junto com aquelas minas, quando o navio que as conduzia foi posto a pique, surpreendido pelo início da guerra. No primeiro ano, o inimigo havia tomado dos alemães as ilhas Carolinas e as Marianas. As esferas de aço, sem explosivos, pois eram experimentais, com o naufrágio, afundaram 11 Km, devido ao lastro de água com que foram preenchidas. Só foram recolhidas pela marinha japonesa, em 1917, depois que uma bóia sinalizadora de emergência foi localizada.
Por outro lado, Karlen chegaria a um novo fenômeno em que o xerum era apenas coadjuvante. Com a formidável pressão no abismo marítimo, houve um esmagamento das minas, que tinham vinte pontas ocas, cada uma. As esferas se transformaram em icosaedros, e parte da água que estava dentro delas escapou para as pontas. Um percussor cônico e sua forte mola, em cada uma delas, impediu a volta da água que havia se infiltrado. Metódico, como um bom engenheiro deve ser, Karlen analisou todo o material, constatando algo inacreditável. Um litro da água, na esfera, estava pesando 1.020 gramas; e, em cada ponta, um litro de água pesava apenas 20 gramas. Como? Com certeza!
Sem repassar esta informação, Karlen voltou ao mesmo local no Pacífico, em 1936, para uma nova experiência, autorizado por Lenk. A fossa Mariana, conhecida desde 1876, é o local mais profundo dos oceanos e ideal para uma simulada pesca de monstros abissais. Karlen passou cinco semanas, algumas abaixo de mau tempo, testando a capacidade anti-reflexiva de uma resina impregnada de xerum, com polaridade controlada, substituindo a tinta antiga de Lenk. Para isso, contava com um moderno radar de submarino. Entretanto, por conta própria, ele investigava também o fenômeno daquela água sem peso, que foi repetido com sucesso, e pode ainda, produzir mais de 5 mil litros dessa água para novas experiências.
Uma teoria razoável é a que, o xerum, não só absorve as ondas que se refletiriam de volta ao radar, como também é impermeável a algo que, parece sair da água quando levada a grande profundidade, e a torna mais pesada. Esse algo, somando-se à outra água, vai torná-la mais leve. É coerente com o fato de tudo ficar mais leve quanto mais se afasta da superfície da Terra. Na década de 30, Karlen só podia especular, mas em 63, tendo participado do projeto Sputinik, teve certeza que no espaço as coisas não têm peso, e se dispersam como se estivessem em um vácuo. Seu chute havia sido preciso, e foi um belo gol! Tem uns e outros por aí que não jogam nada e querem massagista. Eu, hein!
Além dos antigos filósofos gregos, alguns cientistas já cogitavam naquela época, 1936, que um fluído cósmico preenche a maior parte do universo. E, depois de Einstein, começaram a conjecturar que este fluido provoca a expansão da matéria (como nós conhecemos), com uma força variável que se opõe à da gravidade, e passaram a chamá-lo de matéria escura (ou invisível). Karlen acreditava que foi isso que saiu da água mais pesada, 980 litros, e encharcou a mais leve, só 20 litros. Interessante, foi saber que esse fluido podia ser isolado a ponto de quase neutralizar a gravidade, e denominou-o “ätherisch” ou etéreo. O avô de Carlos agora era o dono da bola! O tiro de meta poderia ser dele, e a gorduchinha iria atravessar o campo todo, inflada de etéreo. Nada teria maior interesse que a preponderância dessa bolada. Karlen ia virar o jogo a seu favor! Depois disso, é só bola pra frente. Pode chutar. É gol!
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