segunda-feira, 19 de outubro de 2015

PRESENTE DO ALÉM


O avô de Carlos tinha montado uma pequena oficina mecânica em 1964, que foi substituída por outra maior em 1984, dois meses antes de desaparecer. Carlos ajudou a instalar as máquinas e dispor as ferramentas nos armários. O novo galpão era bem grande, mas ainda tinha um segundo piso com um espaço enorme sob o telhado. A estrutura era reforçada, daria para colocar um carro lá em cima, embora não houvesse como. O único acesso era com uma escada de eletricista por um alçapão.

                                                    A bola na marca do pênalti


Carlos acabou mesmo sendo perito na terminologia do campo. O cara era bom de bola! Vestia a camiseta e largava bem! Cada frase do craque tinha alguma expressão futebolística!



Um dia, chegou pelo correio, como encomenda, uma antiga coleção de livros de aprendizagem da língua alemã, que era do seu avô. O remetente era desconhecido, e a postagem foi feita em Porto Alegre, poucos dias antes. Entre as folhas, tinha um bilhetinho do avô, onde se lia: Para Carlinhos, quando fizer 19 anos. "Boa sorte nos estudos, com meus livros, e não te esqueças do meu velho caderno." E, terminava com: Farroupilha, 05 de Maio de 1980.


Havia também um cartão bancário, recente, e ainda na validade, com a senha anotada em um papelzinho. A tal conta estava no nome de Carlos Alberto da Silva. Porém, não havia nenhuma informação importante. Talvez, porque fosse bem anterior ao sumiço do velho. O mais curioso, é que parecia haver um código, nas associações de fatos do passado, que Carlos fazia, com as frases de um dos livros. Seguindo estas pistas, ele acabou encontrando, na base de uma das máquinas da oficina, um relatório escondido que foi datilografado pelo avô, e datado em 1963.


Junto com o relatório havia uma carta do avô, escrita alguns dias antes, de não ser mais visto, onde diz que desconfiava estar sendo seguido, e que pressentia que seria levado embora, sem aviso. Só não sabia se eram russos ou israelenses, suas maiores suspeitas. Declarando o seu amor, por aquela família que ele considerava a sua própria, pede que não o procurem pois era perigoso demais; e, tenham cuidado com as informações daquele relatório. Ele mesmo queria poder usá-las pessoalmente, no melhor momento possível. Mas, se Carlos estava lendo aquela carta, é porque tal oportunidade não havia surgido. Então, desejava que fossem felizes, ainda que sem ele presente. Pedia desculpas por não ter se despedido, pois não queria assustá-los, e torcia que tivessem sorte. Ele havia juntado algum dinheiro como sua aposentadoria, para o netinho, Carlos. Além disso, deixava o relatório com todos os direitos, pois acreditava ser justo que o resultado de anos de pesquisa fosse aproveitado, em vez de desperdiçado.


Linha de fundo, Carlos entra no jogo para fazer a cobrança do escanteio, a bola quica na área.


Carlos sabia que Arno Lichtener, casou já velho com sua vó, Lorena Silva, e não era seu avô de verdade, como muitos pensavam. Mas, Arno tem outro nome no relatório, Karlen. Não nascera em Feliz, como constava na sua carteira de identidade. Ele veio da Alemanha Oriental, fugitivo do regime comunista, para o qual trabalhava em função técnica importante. Talvez tivesse um interesse de vender informações aos americanos. Talvez fosse implicado com os prisioneiros de campos de concentração nazistas, e ficasse clandestino para não ser perseguido.




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