segunda-feira, 12 de outubro de 2015

A CAVERNA SECRETA



Muitas questões podiam tirar o sono de uma pessoa com uma visão mais profunda da história. Mas, para o jovem curioso, o mais interessante de todas aquelas notícias, trazidas do passado, era sobre a aeronave que Karlen havia construído secretamente, com a qual veio da Alemanha.


Isso era realmente o máximo para alguém entusiasmado, que só queria ter uma motocicleta, e que era invocado com discos voadores. Além do mais, agora poderia contar com uma boa quantia, que fora economizada, por anos, e deixada no banco pelo avô. Tudo ótimo, não fosse o sumiço de uma forma tão difícil de compreender, de alguém que se tornava cada vez mais importante na vida de Carlos.
 

Karlen também havia indicado o local onde a aeronave estava guardada, pronta para ser re-utilizada, com alguns preparativos básicos, e gasolina com óleo 2T, para encher os dois reservatórios. O local era uma fenda encoberta por árvores gigantes, onde só se poderia chegar escalando as escarpas do desfiladeiro Itaimbézinho, em um ponto balizado. Assim, ter-se-ia acesso à entrada de uma caverna, muito escura, em meio à Mata Nebular. Carlos estava ansioso para conhecer a máquina voadora do avô, e alguns dias depois não tem muita dificuldade para encontrar o local.


A vó Lorena dirige o Chevette azul, passando por Caxias e Bom Jesus, até Timbé do Sul, já em Santa Catarina. Carlos saltou antes de chegarem à cidade, desembarcando alguns equipamentos que tinha levado para fazer funcionar os motores parados a mais de nove anos. Despedindo-se, ela volta para casa, e ele ainda tem uma longa caminhada, com sua mochila de ferramentas. 


A recomendação de levar lanterna e novas baterias de motocicleta, permitiu-lhe, com grande emoção, examinar a nave e fazê-la funcionar. Tendo as condições iniciais verificadas, ele dá a partida. Depois de alguns testes, vai saindo devagar. Agora, pode ver toda caverna, parece uma catedral, iluminada por vitrais, com a luz azulada da nave. Dali a pouco, já está entre os galhos das Araucárias, de onde mergulha flutuando na imensidão do desfiladeiro. A luz forte do Sol desvanece a incandescência que emanava dos anéis girando a centenas de rotações por minuto.


Com o coração saltando do peito, Carlos sobrevoa o vale, em várias manobras, até considerar boa a ideia retornar à caverna, guardando tudo como antes. Ao voltar para casa, ele já começa a se preparar para a próxima ida ao Itaimbézinho. Uma das providências necessárias, é ter um local no galpão para receber a nave. Dois meses depois, Carlos retorna à caverna, de onde decola, de madrugada. Com o dia amanhecendo, chega em casa, o forro do galpão estava pronto para ser aberto e a nave entrar. Foi só esbarrar em uma haste mais alta, para a pranchada, abaixo do telhado, descer. Depois foi só puxar as cordas de volta, e ajustar os sacos de areia que servem de contrapeso.


Mesmo sem poder se exibir com sua máquina, Carlos se diverte em algumas peripécias, por perto da região onde vive, ficando habilidoso no seu manejo. A sua vida continua no ritmo de sempre, até que recebe pelo correio, uma carta postada em Munique. Estranhamente era do avô, assinada dois meses antes. Carlos havia esquecido a sua obsessão por abduções, afinal os discos voadores eram fabricados pelo ser humano, e há décadas.

2 comentários:

  1. Esta postagem faz parte do primeiro conto, e mostra o contato de Carlos com a velha máquina voadora do seu avô Karlen, com a qual ele pode fugir da Alemanha oriental, em dezembro de 1963. É ficção, mas não é muito diferente de tantas outras fugas desesperadas pelo muro de Berlim. O Itaimbezinho existe e é maravilhoso!

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