quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O DISSIDENTE - 1



 Erik Triga nasceu em Nuremberg, 1932, e, desde então, viveria um conflito muito incomum. Ele aparece no colo de sua mãe, nas cenas colhidas nas ruas de sua cidade natal, durante os eventos do primeiro encontro do Partido Social Nacionalista, celebrizadas no filme "O triunfo da Vontade".

Naquela época, a Alemanha se reerguia depois de quase 15 anos amargando a derrota da 1ª Guerra Mundial. E, seu povo já passava momentos difíceis, mesmo antes do Armistício, quando começaram a vigorar, pelo Tratado de Versalhes, as sanções impostas pelos vitoriosos.


Empobrecidas pelo esforço de guerra, e sofrendo durante 5 anos com as baixas, que levavam entes queridos, em quantidade, as famílias não tiveram um grande alívio com fim das hostilidades nas frentes de combate. A paz lhes trouxe ainda as agruras da Gripe Espanhola, em 1919; a Crise Financeira, em 1929; e uma enorme dívida para reparação dos prejuízos decorrentes da guerra. Só com a ascensão de Hitler, puderam novamente ter esperanças e construir o que acreditavam ser um sonho magnífico.



Aparentemente, o III Reich começava muito bem e Erik seria um dos futuros herdeiros da sua glória. Ele era um menino engajado, que se sentia responsável pela Pátria e, com 9 anos, já pertencia, com orgulho, à juventude hitlerista. Tudo seria muito bom se o seu país não estivesse em guerra de novo.

Um dos objetivos do Führer, a anexação dos territórios onde viviam comunidades que falavam alemão, por certo se estenderia até a Prússia. Inevitavelmente, isso obrigaria a Wehrmacht a passar por cima da Polônia, cujas forças armadas e o povo lutariam bravamente para preservar sua soberania, conquistada em 1918, depois de um século de anexação a  tres países que existiam antes da I GM. O pior era que, a Polônia agora tinha uma aliança com a Inglaterra e a França. Isso envolveria a Alemanha em outra confrontação com estas duas super potências. Era o início da segunda guerra mundial.


O pai de Erik que foi um empreendedor de sucesso, produzindo dispositivos eletromagnéticos, nos anos 20, enveredou para a política e se tornou um alto funcionário na Bavária. Com 45 anos de idade, ainda era vibrante e realizador, embora nunca tivesse se interessado pela carreira militar, diferente dos filhos que sonhavam com feitos heroicos e galardões nas fardas elegantes da Wehrmacht. Em 1944, as coisas já não estavam nada bem para o Reich, com os americanos invadindo pela Itália e França, no Leste, e o exército vermelho empurrando de volta o alemães, pelo Oeste. Com 12 anos, Erik tem um irmão mais velho, Gustaf, de 23, recém incluído como piloto na Luftwaffe, pronto para seguir destino à frente russa.

Antes de se despedir, Gustaf quis mostrar algo especial a Erik. Eles foram de carro até uma base de treinamento, e o caçula estava eufórico imaginando que  veria de perto alguma nova aeronave de combate. Autorizado pelo guarda que o reconheceu, Gustaf dirigiu pelo bosque até chegar a um galpão meio enterrado. "Não era uma hangar típico!" Pensou, Erik, que já era um bom conhecedor de diversos modelos e suas instalações. Eles desceram uma escadaria, seguida de um pequeno túnel, antes da porta de ferro, que não estava fechada. E, se depararam, no centro do galpão, com um grande objeto circular construído de metal, suspenso sobre 3 rodas, a 2 metros do solo. Tudo indicava que se tratava de uma aeronave, mas muito diferente de qualquer outra que Erik já conhecesse, mesmo por ilustrações. O galpão não tinha janelas e o controle das luzes era rigoroso, de maneira a evitar os riscos de ser visto por bombardeiros aéreos que castigavam a Alemanha.



Ao redor dele, alguns técnicos trabalhavam no turno da noite. Todos já haviam se acostumado a ver Gustaf, por ali. Ele era muito bem conceituado, ainda mais sendo o namorado da filha de Traute. A famosa médium, integrante da sociedade Vril, gostava muito do futuro genro, e o trouxe ao galpão várias vezes, onde ele conheceu a máquina voadora discóide. Cada uma que era construída pela Arado, vinha para aquele local, onde apenas alguns pilotos que foram secretamente designados podiam conhecê-la e testá-la. Gustaf foi o mais jovem a participar das instruções e provas de voo, mas ele precisava de experiência de combate, em algumas missões convencionais, no Front. Gustaf sentia-se desafiado a enfrentar os russos, mas deveria retornar antes do final do ano, para uma experiência sem precedentes que a Thule e a Vril se preparavam para realizar, sob os auspícios de Herr Himmler e a sua Schwarze Sonne.




"Como isto pode voar? Não tem asas, nem lemes, nem hélices!" Erik reclama surpreso! Mas, Gustaf está orgulhoso e confiante: "Assim que estiverem prontas, estas naves vão nos conduzir à vitória! Venha comigo, e veja com seus próprios olhos."Tinha um diâmetro de 16 metros e uma altura de 7, o formato de uma bacia virada, com um cilindro encravado, do qual só se viam as partes de cima e de baixo, externamente. A fuselagem não era pintada, e tudo brilhava como prata. Acionando uma chave embutida, Gustaf abriu uma tampa, de onde uma escada desceu, suavemente. Adiante, estava o porão com 2 motores que queimavam álcool, e no alto, a sala de comando. Não havia um grande espaço disponível, devia transportar umas 2 ou 3 pessoas. "Mas, afinal, o que é isto?" Pensou, Erik, em voz alta. Gustaf subiu a escada e chamou Erik. "Venha aqui, vou lhe mostrar como funciona!"


quarta-feira, 9 de setembro de 2015

O DISSIDENTE - 2




No primeiro andar, era a sala de máquinas; e, no segundo, que estava vazio, havia janelas redondas, utilizáveis por quem estivesse em pé. Meio metro acima, ocupando a metade desse espaço, estavam as poltronas do piloto e do copiloto. Inúmeros instrumentos, alavancas, e chaves, confirmavam as expectativas para uma aeronave, mas o mistério do seu funcionamento ainda persistia. Gustaf tenta esclarecer. "Estes motores giram, a milhares de rotações por minuto, dois anéis, ao redor desta cabina, ocupando quase todo o espaço circular da aeronave, que não é um avião pois voa sem a necessidade da sustentação propiciada por asas." Erik está intrigado, e especula. "Sem elevação aerodinâmica, só é possível flutuar com empuxo aerostático. Então, isto é um balão?" Gustaf reconhece que é difícil de se aceitar inicialmente.


"Não. Os anéis contém uma substância, com capacidade antigravitacional, que submetida à alta força centrífuga provoca a levitação da aeronave. Os primeiros modelos de naves circulares eram chamados de RFZ-Vril, mas estas começam a nova série Haunebu-Vril."


Erik está inconformado. "Que substância é essa? Como é produzida? E, mesmo levitando, como essa máquina pode voar com alguma direção e velocidade?" Gustaf convida o irmão a olhar por uma das janelinhas que lembram escotilhas de navios. "Olhe deste lado, você verá na dianteira da nave uma pequena abertura na fuselagem, é uma entrada de ar. No outro lado é semelhante. E, na traseira, nos dois lados também estão as saídas de gases da combustão de álcool, em alta velocidade. São turbinas, as mesmas das bombas V-1, que propulsionam a nave, permitindo que se desloque até 1 mil Km/h." Erik examina o cockpit, e tudo mais no interior e depois desce para observar de perto as turbinas, os trem de pouso, os detalhes externos. Com a madrugada avançando, eles voltam para casa.




Erik estava impressionado e confuso, havia muito no que pensar, passou a noite em claro. Uma grande ansiedade o dominava, quando o Sol clareou o horizonte, ele não ia mais dormir mesmo, e levantou. Gustaf já estava fardado, com malas prontas na porta de casa. O trem sairia em uma hora, as despedidas foram na estação em um clima de resignação. A família nunca mais veria Gustaf, o pai e a mãe ficaram arrasados quando receberam a notícia do seu desaparecimento próximo de Minsk, na Bielorrússia, com um moderno caça Focke-Wulf. A futura sogra, Sra Traute Sigrune, ficou ainda mais inconsolável, devido ao sofrimento silencioso da filha. O jovem casal, de legítimos arianos, se casaria em dezembro, quando Gustaf retornasse experiente em combates, e cheio de glória.

Erik estava anestesiado, e só pensava em se apresentar como voluntário na defesa civil. Mas, o pai lhe dizia para não se apressar, pois em breve os bombardeios americanos cessariam, e eles seriam convocados para lutar contra os russos. O jovem relutava em aguardar pacientemente enquanto ao seu redor o mundo desmoronava, até que um dia o pai lhe chamou para uma conversa séria. "Erik, a Sra Traute me procurou e me fez um pedido muito especial. Ela quer que você a acompanhe em uma missão de maior relevância. Gustaf ia casar com a filha dela, e ele seguiria com elas, e muitas outras pessoas, para a Nova Suábia. A perda dele é, por certo, irreparável, mas as características de vocês são comparáveis, por isso sua presença é importante para os planos das sociedades secretas Vril e Thule, que construíram a aeronave que você conheceu. Eu e sua mãe queremos que você vá com elas antes, e depois venha nos buscar."




Erik sabe que seus pais estão correndo riscos ficando na Alemanha, quando o Reich parece cada vez mais ameaçado. Mas, tentar sair, passando pelos inimigos também seria perigoso. Era assustador partir sozinho, ainda sem saber aonde ia, nem o que faria lá, mas se era necessário ele está pronto. Na noite de 23 de setembro de 44, mais uma despedida dolorosa! O pai não pode entrar na base, e retorna do portão. Ao se aproximar do galpão, encontra pessoas ansiosas, os preparativos são extenuantes e muitos problemas decorrem das mais simples distrações, todos estão nervosos. Uma bateria antiaérea foi deslocada para a localidade e estava de prontidão. No bosque, podiam ser vistas esferas metálicas de um metro de diâmetro.

Eram Feuerkugel ou Foo fighter, também prontos para serem lançados se aviões inimigos fossem detectados. Duas precauções débeis, diante de um bombardeio de grande altitude, mas necessárias.


Traute o chamou, assim que o viu chegar. "Erik, venha cá, meu filho, não tenha medo! Eu sei que você é muito corajoso." Ela estava muito apreensiva. Laura, sua filha, vinha com o que parecia ser uma criança de uns 8 ou 9 anos. Apesar do frio, a criaturinha tinha só uma camisola com capuz por cima da pele muito clara, pouco visível. Quando pode ver seu rosto, Erik ficou chocado. "O que poderia ser aquilo?" Pensou, balbuciando. E, em sua mente parecia surgir uma resposta. "Meu nome é Abloeschiest. E, o seu?" Perplexo, Erik pensa. "Que? Meu nome? É Erik!" E, o seu pensamento volta a surpreendê-lo. "Olá, Erik. É bom conhecê-lo!" Desse ponto em diante, começa uma conversa normal para dois adolescentes, isso em total silêncio. A criatura era assustadora mas muito comunicativa.


Erik ficou sabendo que muitas outras naves como aquela iriam decolar de vários locais da Alemanha, em uma sequência cronologia, e percorreriam rotas diferentes. O motivo era driblar os radares da Inglaterra e diminuir a chance de se encontrarem acidentalmente com outras aeronaves, inimigas ou amigas. Nem mesmo o alto comando do Reich sabia desta operação. O general Haushoffer, se reportava apenas a Himmler. Com exceção de Lothar Waiz, um herói da I GM e responsável técnico, que seria o piloto daquela nave, e de Traute com Maria Orsic, que eram as médiuns principais da Vril, ninguém com mais de 30 anos seguiria nesta primeira onda.


A nave recebera mais 4 poltronas na sala de comando, acomodando 6 pessoas no total. Para surpresa de Erik, a "criança" viajaria como copiloto. No porão, acumulava-se bagagem e suprimentos extras para uma longa expedição. Enquanto os passageiros ainda estavam se instalando, os telhados iam sendo removidos pelo pessoal de manutenção. Em determinado momento, Erik observa que as esferas metálicas que estavam no bosque começam a brilhar com uma luz colorida mudando do azul para o violeta, e finalmente vermelho. Então, elas se ergueram na vertical, a grande velocidade, para o céu escuro, e foram diminuindo até parecerem estrelas. Eram umas 10, e sumiram completamente!


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terça-feira, 8 de setembro de 2015

O DISSIDENTE - 3



Depois de inúmeras verificações e procedimentos pelo pessoal de terra, foi autorizada a decolagem. Em seguida, as bolas vermelhas reapareceram como se estivessem caindo. Elas haviam sido lançadas para detectar aeronaves nas proximidades e, com uma resposta favorável, podiam se recolher para serem reutilizadas no futuro. Os motores do porão da nave foram ligados, o som lembrava o de um ônibus. Então, as embreagem foram acionadas e a primeira marcha introduzida, os grande anéis que circulavam a cabina eram postos em movimento. Cada um girava em um sentido, de modo a equilibrar a inércia. Imediatamente, o metal prateado da fuselagem foi se tornando incandescente, como o ferro derretido. Aquela luz avermelhada que ia dos anéis para fora da nave, clareava toda a área do galpão, e o bosque ao redor. A sensação a seguir era a de um elevador, com a nave subindo na vertical.

Era muito estranho, o medo da imponderabilidade era bem maior do que em um avião, no qual você percebe o deslocamento à frente. Aquilo parecia que ia despencar a qualquer momento. A rotação acelerada dos anéis era sentida nas paredes da cabina como vibração de alta frequência, muito desagradável. Quando parecia que os ouvidos iam estourar, a nave parou de subir. Eles estavam no mesmo ponto do mapa, mas a 10 Km de altitude. Era possível ver pelas escotilhas, boa parte da Alemanha sob o tapete negro das medidas de segurança contra bombardeios, salpicada aqui e ali de pequenos clarões das escaramuças na periferia. Foi a cena que Erik lembraria por muitos anos, constantemente. Na sua despedida da Pátria amada, vê-la como em um incêndio de fora para dentro, sendo consumida.



Nesse momento, um zumbido forte começou a perfurar os ouvidos, já recuperados pela pressão atmosférica reajustada. Com as turbinas laterais funcionando, um deslocamento horizontal foi ganhando força, cada vez maior, a ponto de imprensar cada passageiro na sua poltrona. Isso demorou apenas alguns minutos, e as turbinas foram desligadas. A velocidade permanecia alta devido à inércia, para ir diminuindo aos poucos até a nave parar novamente, de novo. Nesse momento, era feita a localização geográfica e a nave girava para o rumo que pretendia tomar, em sua rota de retas quebradas. A finalidade desses movimentos eram descaracterizar o voo de uma aeronave para os radares. Quando amanheceu, Erik soube que pousariam na Noruega, em um bosque isolado de uma região gelada. Haviam feito uma volta enorme para poder despistar os inimigos atentos, e passariam o dia ali, no solo.

Antes deles chegarem, uma nave havia plantado naquele local um reservatório de álcool. Em 1943, Uma usina fora mobilizada, nas proximidades, para atender a essa demanda. E, essa nave percorria diversos pontos, onde outras naves pousariam, para deixar o álcool em depósitos enterrados, levando semanas para concluir o previsto. Outra usina, em Portugal, também produzia combustível para as naves prosseguirem a viagem. Uma terceira usina era na Argentina. O suprimento mais pesado e a maior parte das pessoas designadas para aquela missão foram transportados por submarinos. Todos se encontrariam em um destino intermediário, a ilha Príncipe Eduardo, no oceano Índico Sul, antes de serem conduzidos para a base 211, na Antártica. 


Em 1944, a travessia do Atlântico pelos alemães era realmente um desafio excepcional, pois seriam detectados com facilidade, por radares e sonares. Esta tarefa ficou mais fácil, depois que os aliados decifraram a máquina de criptografia alemã, a Enigma. Agora, britânicos e americanos sabiam com antecedência os movimentos alemães e podiam se preparar. Mesmo assim, meses antes da partida dos Haunebus, 2 submarinos tiveram que fazer o trajeto para a Nova Suábia, com seus Snorkels utilizados ao máximo, de modo a permanecerem submersos, quase toda a viagem. Eles também procuram evitar as rotas usadas pelos comboios aliados.

O clone do U-859, conhecido como Rezessiv, saiu primeiro passando pelos pontos onde os haunebus pousariam mais tarde. Sua missão era orientar a conclusão os trabalhos de mobilização dos meios de reabastecimento. Na segunda parte da viagem, uma  equipe especial seria lançada na Arábia Saudita, para substituir os lingotes de prata, que embarcariam no navio John Barry, por outros de chumbo com revestimento prateado, providenciados por um grupo de apoio local. Enquanto os ingleses levavam a carga falsa, três boias submersíveis foram rebocadas pelo Rezessiv, pelo oceano Índico até as ilhas Príncipe Eduardo, com o metal precioso.


O U-859, que seguiu o seu gêmeo três mês depois, transportava 101 m³ de mercúrio, mas deixou a maior parte no mesmo local onde ficou a prata do Rezessiv. Esse mercúrio era "super leve" (saturado de fluído etéreo) pesando 19 Toneladas. Deixou também todo o estoque de xerum 525 disponível na Alemanha. Depois partiu para o Japão com as restantes 12 toneladas (1 m³), sem preparação alguma, destinadas às fábricas de munição.



Eles estavam nas ilhas Svalbard. Lá é o ponto da Terra, permanentemente habitado, mais próximo do Polo Norte. Apesar de estar sob soberania norueguesa, o arquipélago está sujeito a um regime específico de acesso aos seus recursos naturais pela comunidade internacional, nos termos do Tratado de Svalbard assinado em Paris a 9 de Fevereiro de 1920. O clima tipicamente ártico na região, é amenizado pela corrente do Atlântico Norte, que o deixa temperado.

Ao anoitecer, com a nave reabastecida, Erik pôde acompanhar mais de perto os procedimentos técnicos. O álcool não congela, mas o motor exige um pré funcionamento com benzina para aquecer os dutos de admissão do ar. O giro inicial dos motores para a partida não era obtido com a preciosa carga das baterias, mas com um cartucho de caça. A parte mais interessante, foi a navegação, que não podia se utilizar de bússola ou rádiogoniômetro, como as aeronaves convencionais. Isso porque, com os anéis levitadores girando, estes instrumentos ficam inoperantes. A bússola gira acompanhando os anéis, e não aponta para o Norte. As transmissões de rádio, indo ou vindo seriam absorvidas pela blindagem, mas antes disso sofrem forte interferência eletromagnética. Mesmo outras aeronaves, se estiverem próximas, serão atingidas pela radiação, atrapalhando suas comunicações e até causando panes nos equipamentos elétricos, inclusive parando motores, cujo centelhamento é programado.



Felizmente, os motores dentro dos anéis não sofrem essa interferência. Embora externas, as turbinas pulsejet funcionam por combustão espontânea, apenas no início precisam de ignição.

Para se orientar, o engenheiro de bordo deve ler a bússola com a nave pousada e amarrar o Norte em um giroscópio-goniômetro ou Foucault. Este aparelho não é muito estável e deve ser recalibrado frequentemente. Na impossibilidade de pousar, o recurso disponível é se valer de referências visuais  com uma excelente luneta. Para a localização geográfica, existe no topo da cabina um sextante. Voos entre as nuvens ou sob tempestades são muito complicados. À grande altitude, esses problemas desaparecem, mas as referências visuais, também. Via de regra a nave voa em linha reta, na horizontal. É possível se alterar a direção, desequilibrando a potência das turbinas ou dos motores de giro, mas isso é perigoso durante o deslocamento. A forma mais usual é, depois de perder velocidade, orientar-se, e então girar o haunebu para o lado que deseja ir, reiniciando a viagem. Para se desviar de obstáculos, é melhor aumentar a altitude, o que é feito com mais facilidade que as aeronaves de sustentação aerodinâmica.


Claro que é necessária uma antecedência de acordo com a velocidade, e deve-se evitar cordilheiras elevadas, pelos limites de pressão atmosférica interna, disponíveis no haunebu (10 a 11 km).







segunda-feira, 7 de setembro de 2015

O DISSIDENTE - 4



Os diversos trechos da longa viagem, atravessando dois hemisférios, foram bastante penosos para os fugitivos da 2ª Guerra Mundial. As poltronas, sem capacidade de reclinar, foram amontoadas para caberem na sala de comando, o 2º andar do Haunebu. As quatro pessoas não tinham espaço para esticar as pernas e circular entre as poltronas.

No primeiro piso, a sala de máquinas estava abarrotada de suprimentos. Além dos que vieram da Alemanha, foram embarcados tonéis de álcool, para aumentar a autonomia sobre o Atlântico, e caixotes com sementes, que vinham sendo estocadas em Svalgard, há anos. Elas foram adaptadas ao clima Ártico, para poderem germinar na Antártica. Um pequeno banheiro químico, era o conforto que dispuseram durante o voo, que duraria as horas da noites em cada trecho.


Em grande altitude, o funcionamento dos motores de rotação dos anéis levitadores mantinha as instalações em temperatura adequada, mas não havia pressurização na cabina. As máscaras de ar comprimido eram eficientes para a respiração das pessoas, embora os ouvidos doessem. Por esse motivo, os protetores auriculares empregados na manutenção tiveram que ser retirados dos armários para distribuição a todos. Os motores também recebiam injeção de ar extra para não se afogarem.




Quando chegaram à Argentina, todos estavam exaustos, depois de passarem momentos difíceis em meio à escuridão da madrugada. A nave incandescente foi vista por um comboio aliado, que fez fogo antiaéreo contra ela, mesmo não sabendo do que se tratava. O comandante Lothar não perdeu tempo revidando, apenas acionou as turbinas e sumiu das vistas inimigas imediatamente. De qualquer maneira poderiam ter sido atingidos e abatidos. Algumas explosões próximas sacudiram a nave e danificaram um dos mecanismos da porta de acesso.


O deslocamento para as ilhas Príncipe Eduardo, no Oceano Índico, também foi complicado devido a um temporal perto das ilhas Malvinas. O concerto provisório, na porta danificada, não resistiu aos ventos, e muita água foi respingada no interior da sala de máquinas. A sala de comando não ficou exposta à chuva, mas estava muito frio lá dentro devido à falha no isolamento térmico no andar de baixo.




O pouso na ilha designada foi em meio à forte neblina. A sinalização planejada para a recepção mal era vista, mas foi comemorada com entusiasmo. Na verdade, um dos submarinos havia sido perdido na Polinésia. Era o U-859 que retornaria do Japão com preciosos itens de produção agrícola e de aproveitamento do mar. Uma perda lastimável, além das vidas de pessoas importantes para a causa. Um dos Haunebu também desapareceu, este na travessia do Atlântico, próximo a costa africana.



A permanência nessa ilha teria que ser temporária, pois era rota importante dos ingleses, ademais não havia fontes termais para sobrevivência prolongada dos viajantes. Um período lá, porém, foi previsto para organizar os meios e o pessoal para a ocupação da Base 211, na Nova Suábia. A preparação dos lotes e dos grupos, distribuídos sobre as pedras, foi iniciado em seguida. Não havia tempo a perder.

Protegidos apenas por lonas, com padrão de camuflagem semelhante a pedras e neve, não dispunham de combustível e alimentos a mais, caso houvesse atraso por causa de tempestades. O planejamento foi cumprido mesmo sob mal tempo e, em duas semanas, não havia mais vestígios deles e da enorme carga, na pequena ilha. As instalações na Antártica eram rústicas, mas estavam prontas para recebê-los, graças às atividades preparatórias que vinham sendo feitas desde 1939. 





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domingo, 6 de setembro de 2015

O DISSIDENTE - 5



A chegada à Nova Suábia se desenvolveu por vagas, as equipes precursoras dos submarinos foram as primeiras. O aproveitamento da fonte termal encontrada em 1939 seria vital para a sobrevivência dos humanos e dos seus áliens. A circulação da água quente pelas paredes de concreto mantinham o ambiente a uma temperatura constante de 15° C. A possibilidade de se obter água fervendo em profundidades maiores permitia a manutenção da higiene e a confecção de alimentos, indispensável aos grupos, mas inviável se dependesse de combustível. A existência de solo adequado para pequenas plantações, sob estufas, era mais outra carta na manga que tinham a seu favor.

As festas do final do ano de 1944 transcorreram com simplicidade e pouco entusiasmo. As notícias sobre a Europa não animavam, e as famílias deixadas lá receberam os mais eloquentes votos de boa sorte para 1945. Dentre os que ficaram havia gente importante que não pode embarcar, e agora fazia falta na organização e construção da Nova Suábia. Na verdade, todos ali viviam com grande precariedade de meios. E, o idealismo que existia no passado congelou juntos com seus corações, amargurados por mais uma derrota da Pátria, a cada dia mais certa, e frustrados pela renúncia a tudo de belo e saudável de uma vida normal, que foram obrigados a aceitar, por um sonho, agora já sem sentido.


Muitos queriam voltar, acreditavam que deviam utilizar as máquinas que tinham e dedicar suas vidas para salvar o Reich. Erik era um desses. A mais alta autoridade presente, o general Kammler, porém, garantia que esse seria um desperdício completamente inútil. A única chance, a última possibilidade, da Germânia vir a existir seria através deles, do sucesso deles. Nem foi necessário muito debate a respeito, em Abril já não havia mais esperança, e em Maio veio a notícia da Capitulação da Alemanha. Pelo menos a guerra tinha acabado, não haveria reforços para a Nova Suábia, não haveria retorno para buscar familiares, nunca mais eles se veriam, mas a gerra acabou, talvez os deixassem em paz naquele lugar inóspito. Quando o Japão se rendeu, em Agosto, todos sentiram um grande alívio, e a esperança voltou a lhes dar forças para continuar.


O ano de 1946 foi bastante produtivo e as condições de vida nos subterrâneos da Antártica começavam a ser até agradáveis. E, 1947 prometia muito. Mas, a presença de navios de guerra foi observada com desconfiança pelas sentinelas avançadas. Logo se constatou que era uma esquadra americana, e não parecia que eles estavam fazendo apenas um exercício. Todas as normas de segurança da Base 211 foram colocadas em prática, e os alemães esperavam que ela não fosse encontrada. Mas, foi inevitável o contato com o inimigo na linha de defesa na periferia da área vital, os abrigos foram descobertos e atacados.


O tiroteio e as explosões ecoavam naquela imensidão de branco, relembrando os últimos anos na Europa. Os americanos sabiam muito bem o que estavam fazendo, de alguma maneira eles foram informados sobre a existência da base alemã. Nessa nova guerra, as naves tiveram que lutar, com munição escassa, mas com a possibilidade de surpreeender o inimigo pelas manobras incomuns.


Infelizmente, o submarino Rezessiv não pode ser empregado, pois ficou preso em bancos de gelo, próximos da entrada da base. O desfecho ficou inconclusivo quando a esquadra se retirou, provavelmente por lhe faltar algum item necessário a sua permanência.


Com 15 anos, Erik recebeu uma metralhadora MG-42 e um posto de guarda para vigiar e impedir que fosse ultrapassado pelo inimigo. Para sua sorte, os americanos não usaram aquela via de acesso. Todos os postos que eles identificaram foram destruídos e seus ocupantes mortos. Algumas naves foram atingidas e acabaram caindo. Só uma delas foi encontrada pelos alemães e recuperada, as outras podem ter sido destruídas totalmente ou talvez apreendidas pelos americanos. Não houve notícias a respeito no rádio. E, de repente as forças inimigas começaram a ser menos vistas, até desaparecerem por completo. A expectativa de uma nova ofensiva dos americanos permaneceu viva por meses. Só com os anos passando, ela foi sendo esquecida e todos puderam relaxar um pouco.


Naquele ano de 1947, os áliens foram considerados emancipados e passaram a participar efetivamente de todas as atividades na base, inclusive a condução da s naves haunebus. Curiosos para conhecerem mais o inimigo que os atacava, dois deles até se aventuraram, em uma viagem só de ida aos Estados Unidos. Nunca se soube porque a nave caiu e o que aconteceu com os corpos. As notícias e os desmentidos chegaram ao conhecimento dos humanos e dos áliens, nas duas bases. Todos sabiam que houve um acidente fatal, que foi encoberto pelo governo americano.


Provavelmente os destroços e os corpos dos áliens foram escondidos da opinião pública para serem estudados sem interferência da mídia ou de interesses estrangeiros. É possível também que outros corpos e mais material tenham sido levados pela esquadra do almirante Byrd, retornando da guerra que não foi divulgada ao mundo, na Antártica.



Em 1951, a base dos andes estava pronta, inclusive com o reator nuclear funcionando, graças ao projeto Huemul. Um grupo especial foi designado para fazer a ocupação inicial e o levantamento de recursos para a fabricação das naves mais modernas com as turbinas Repulsine. Só em 1955, com a colaboração dos áliens é que foi possível concluir o projeto que vinha sendo viabilizado desde 1940. A partir destes lotes, também, se tornava impossível para os humanos, conduzir estas naves, sem um álien ao lado. O seu comando e controle dependia da telepatia para funcionar bem.


Alguns áliens também se destacaram na liderança das comunidades das duas bases. Rieschtell, da primeira geração, passou a ser chamado de Führer depois que foi condecorado por bravura na defesa da base 211, na Antártica, em 1947. E, Wacholz, da segunda geração, recebeu o título de general, por ter comandado a transferência emergencial para a base dos Andes, quando houve um novo ataque dos americanos à base 211, em 1979. No qual, o almirante Byrd obteve autorização de Washington para a detonação de uma bomba nuclear, obrigando os alemães sobreviventes a se retirarem da Antártica às pressas, o que foi feito entretanto em ordem e levando todo o material disponível.

Wacholz, depois disso, ficou obcecado pelo domínio do planeta. E, em 1984, o seu plano foi iniciado.


Um detalhe que devia ser providenciado era a produção de mercúrio saturado de étereo. Kammler era a pessoa indicada para essa missão. As naves antigas estavam perdendo a capacidade de flutuação, e as novas necessitavam desse ingrediente extraordinário. Ainda havia xerum em estoque mas ninguém sabia como saturar o mercúrio, nem como isolá-lo efetivamente, para aplicá-lo nas naves.


Kammler conhecia as fases do projeto haunebu desde o Glocke, em 1937. E, ele acreditava que fosse Lenk, o especialista que desenvolvia a tinta anti-reflexo de radar, com xerum, o responsável pela descoberta da técnica de saturação de étereo. Como Lenk foi morto no primeiro acidente com o Glocke, levando para o túmulo o seu conhecimento, não seria mais possível a construção da máquina de saturar, que lamentavelmente havia sido destruída por um bombardeio, em 1944.


Mas, antes de partir da Alemanha, ele pode se despedir pessoalmente de Himmler. Na oportunidade, Kammler lamentou não ter o projeto da máquina de saturar, e ficou surpreso quando soube que o responsável pela tecnologia do levitador não era Lenk, e sim Karlen, o encarregado dos Foofighter.

Kammler lembrava dele, mas não havia mais como localizá-lo devido ao caos no início de 1945.

Em 1984, Kammler soube por um híbrido infiltrado na Mossad que os israelenses estavam seguindo um alemão refugiado no Sul do Brasil. O seu nome era Arno Lichtener, mas Kammler o reconheceu como Karlen Lichtener, o encarregado dos Foofighter, que tinha a tecnologia do levitador. E, todos sabiam que os judeus procuravam mesmo era Hans Kammler, Karlen seria apenas uma pista para localizá-lo. Por isso, foi urgente montar uma emboscada para capturar Karlen e trazê-lo à base dos Andes, antes que ele desaparecesse novamente.




sábado, 5 de setembro de 2015

O DISSIDENTE - 6



As bases funcionavam como uma unidade militar em campanha. Cada pessoa tem a sua atividade específica, da qual também é professor e fiscal. Mas, além dessa função ainda desenvolve outras, sob a supervisão dos especialistas. Na Antártica, o foco dos interesses era a fonte termal. A exploração e a conservação dela significava a sobrevivência de todos. Além do aquecimento das instalações, e a confecção dos alimentos, graças a ela, se podia cortar os blocos de gelo para a construção dos túneis. A necessidade de substrato com pedras e cimento eram mínimas. Uma descoberta importante também foi o aproveitamento da baixíssima temperatura externa para realizar a têmpera do Leischmetall, tornando essa liga tão resistente quanto leve.

Boa parte dos itens de manutenção das máquinas, e praticamente tudo em termos de alimentação, saúde e vestuário podiam ser comprados com a prata que guardavam, ou deviam ser saqueados em expedições especiais. A capacidade telepática dos áliens veio acrescentar sofisticação e menor risco nas investidas. A abdução de humanos, para melhora genética dos áliens, se intensificou na década de 50, preparando a sua segunda geração, pois na fuga da Alemanha, embarcaram poucas crianças híbridas. O caso Villas Boas, em 1957, ficou famoso algum tempo depois que aconteceu, mas é considerado o primeiro evento desse tipo divulgado pela imprensa.



Na base dos Andes, ainda se podia contar com o reator nuclear de Huemul, que começou a produzir o hidrogênio que serviria de combustível para as novas naves com as turbinas Repulsine. De qualquer maneira havia muita limitação no dia a dia dos alemães, principalmente no quesito vida social. Viver isolado e permanentemente se escondendo do mundo já era bastante difícil de aceitar, mas ainda havia uma submissão psicológica quando os áliens começaram as poderosas sugestões telepáticas com a sua estação transmissora, encravada no vulcão Osorno. Os híbridos que eram sequestrados e trazidos para ajudar nos trabalhos da base, pareciam não ter dificuldades em viver conforme os áliens desejavam, mas os alemães que vieram na fuga e seus filhos tinham muitos problemas.

Em 1987, Erik tinha 55 anos. E, seu filho mais velho, Jürgen, 33. Mas, ele tinha uma filha mais nova, Lygia, com 25. Ela era médica e teve um relacionamento muito próximo com um híbrido, Altahir Adler, com 26. Pelas normas de casamentos impostas pelos áliens, híbridos só devem se casar com híbridas, e Lygia não era. Eles até toleravam que tivessem filhos fora do casamento, mas a filha de Erik não aceitaria essa situação. Altahir também não queria um casamento arranjado.


Lygia e Altahir tinham bons debates filosóficos, mas os dois não entendiam porque eles tinham atitudes inconscientes em desacordo com o que eles mesmos haviam concluído enquanto refletiam. A moça já havia percebido que um tipo de caroço na nuca deles causava interferência em alguns equipamentos médicos. Ele foi voluntário como cobaia, e ela fez uma pequena cirurgia no local, descobrindo um chip. Quando ela tentou retirar a peça inteira, Altahir ficou paralizado e até parou de respirar. Foi necessário reimplantá-lo, com os procedimentos de emergência para salvar sua vida. Mas, foi possível subtrair um enrolamento, que o próprio Altahir verificou depois se tratar de uma antena receptora. Ele se sentiu muito mais coerente depois da cirurgia. A antena recebia instruções telepáticas dos áliens, e agora ele estava livre deles. Lygia precisou de outro médico para repetir a cirurgia na sua própria nuca.


Quando entenderam que, em todas pessoas da base foram implantados chips, em algum momento, sem que soubessem, e que os mais novos eram controlados desde o nascimento para os interesses dos áliens, Altahir e Lygia resolveram desertar. Como  ele era um engenheiro e Filho de um dos pilotos da fuga da Alemanha, teve facilidades funcionais para tentar, por várias vezes, o acionamento das naves, que só os áliens podiam ligar. E, inadvertidamente, acabou causando alguns acidentes com pequenos danos, e sérios incidentes disciplinares. Mas, sendo um idealista, é claro que nunca desistiria. Ele estava decidido a roubar uma nave e, desta vez, tinha desenvolvido uma interface que substituiria a presença de um álien a bordo.



Nessa época, Karlen já estava na base, ele fora trazido para trabalhar três anos antes. E, o avô de Carlos, andava desconfiado de um daqueles jovens alemães, que participaram de sua captura em Farroupilha. Para os áliens, os danos causados pelas tentativas infrutíferas de Altahir para pilotar sozinho, foram considerados acidentais, durante a manutenção normal das naves. Mas, não para o velho alemão, prisioneiro experiente da hospitalidade soviética. 

No momento em que o viu se dirigindo para o aeródromo, Karlen o abordou com a pequena pistola que mantinha escondida no casaco, desde que começou a ver estranhos, que o seguiam pela cidade. Em 1984, ele reagiria pois sabia que ia apodrecer em uma cela, em Israel ou na Rússia, isso se não fosse executado. Mas, os jovens que o detiveram lhe provocaram lembranças do seu passado e ele ficou curioso com a surpreendente nave dos seus compatriotas. Bem, agora ele estava falando sério. E, exigiu que o libertasse da cela onde estava confinado, e o levasse junto. Altahir relutou em desafiar tanto seus algozes, mas achou que não ia fazer muita diferença mesmo. Apenas, alertou Karlen que Lygia também embarcaria, depois que providenciasse a abertura do portão externo.



 O único problema é que o casal não sabia, que eles ainda eram detectados pela peça residual do chip, e identificados enquanto permanecessem nas proximidades. Mal os dois homens entraram na aeródromo, o alarme tocou. Desesperada, no fim do túnel, em direção à liberdade, Lygia nem esperou a aproximação da nave, e tentou acionar o portão ao ouvir as sirenes. Talvez desse tempo para saírem, mas para surpresa da moça, nada funcionava. E, ela viu piscando no painel do Portão:

Flughafen - Diese Zeitpunkt ist unpassenden. - Altahir.

Aeródromo - Este horário é inconveniente - Altahir.

Der Befehl des Tores ist gesperrt - Unbefugt Mitarbeiter - Lygia.

O comando do portão está bloqueado - Funcionário não autorizado - Lygia.

Ela entendeu imediatamente e voltou a alavanca para a posição original. A frase que acusava a sua ação indevida, sumiu do painel na hora!


O alarme era um só, para sinalizar os dois problemas. Ela havia se salvado, mas Altahir continuava junto à nave. Ele não sabia que as sirenes dispararam porque entrou no local em um horário de folga dos mecânicos. Mas, sabia que se tentasse sair do local pelo corredor em que veio, daria de cara com os guardas alertados para a invasão. Ele também sabia que seria o seu fim, se fosse capturado em uma traição. Então puxou Karlen para o elevador de acesso à nave e disse-lhe para impedir aproximação dos guardas, enquanto ele adentrava na cabina e iniciava a decolagem. Só que o painel de comando do piloto não ligou. Os comandos internos da nave estavam bloqueados!


Quando ia descer, já se sentindo perdido, Altahir encontra Karlen que havia subido. O velho engenheiro soube que a nave não funcionaria mesmo, com o alarme ligado. E, antes de travar um tiroteio inútil com a segurança da base, resolveu ajudar aquele que, ainda poderia lhe retribuir um dia. Com a pistola, Karlen se auto infligiu uma coronhada na testa, e chegou sangrando à cabina. Sem saber do que se tratava, Altahir recebe a arma das mãos de Karlen.


- Tome, aponte a arma para mim e vamos descer. Diga que eu o havia ameaçado, mas você conseguiu me dominar.


A façanha heroica de Altahir que foi comemorada pelos guardas, se estendeu a todos. Lygia suspirou aliviada! Temia que o amigo fosse severamente castigado e a envolvesse no mesmo crime de traição.


Karlen passou uma semana na solitária, e depois voltou a trabalhar com sua nova máquina de saturar mercúrio. Altahir teve que fazer um jogo meio-de-campo para acabar com quaisquer desconfianças dos áliens a seu respeito. Ele até se afastou de Lygia, e procurou se aproximar das garotas híbridas, as que menos se interessavam por ele eram as suas preferidas. Isso porque ele planejava participar de alguma missão externa e ir embora para sempre. E, claro, não poderia levar mais ninguém junto com ele.


Karlen acabou desenvolvendo uma doença pulmonar que não tinha cura. Mas, com a ajuda de sua médica, Lygia, ele conseguiu falar com Altahir de novo, para lhe pedir que levasse uma carta de despedida, que fosse enviada ao seu neto Carlos Alberto. Dois anos depois, surge uma oportunidade para Altahir ser incluído, como tripulante, em uma missão técnica na Alemanha. Ele não esquece de pegar a carta com Karlen, que já não saía mais da cama.


Lygia acabou se desinteressando pelo amigo. Diferente dele, ela ainda tinha família. E, além disso, já havia encontrado um outro homem que não era híbrido. Por outro lado, ela havia unido forças em uma missão importante com seu pai. Erik foi eleito chefe do Gruppe von Dissidenten ohne Stift im Nacken (Grupo de dissidentes sem pino na nuca), que defendem a espécie humana de ser suplantada e escravizada pelos áliens.